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(Per)seguidores

In:

Obama, o presidente rubro-Negro

In:

Bell Marques Sem Bandana!

Engatinhando no photoshop, fazendo experiências.

In:

Um Casal

Eu de pé e ela sentada ao lado das colegas, naquele ônibus, olhando pra mim, cochichando no ouvido de uma e de outra, enquanto eu suava e imaginava a causa daquele engarrafamento (aparentemente) quilométrico, fora do horário de pico, por volta de 10 e meia da manhã.

Pediu pra segurar minha bolsa. Tentei raciocinar na hora, qual poderia ser o motivo daquela caridade gratuita, já q ela nunca tinha me visto antes, mas acabei atendendo ao seu pedido. Olhou pra mim, de baixo, com um sorriso no canto do lábio, ao perceber minha timidez, falta de jeito, pra contornar aquela situação embaraçosa.

Com cinco minutos dela me olhando, suas colegas rindo ao lado e no banco detrás dela, meu rosto vermelho, o buzu ainda parado... Peguei minha mochila na sua mão – mal educadamente, eu reconheço... se estiver me ouvindo agora, peço-lhe desculpas – e fui prum lugar um pouco mais à frente dela(s). Acabaram rindo de mim quando eu fiz isso. E riram pra todos no ônibus ouvirem... Pensando bem... ¿Quer saber?: retiro o pedido de desculpa q acabei de fazer!

Aí o engarrafamento acabou, o ônibus andou e eu saltei no mesmo ponto q ela (sem suas colegas, ainda bem). Adiantei os passos e ela tentou me acompanhar. Não conseguindo, me gritou, no meio da rua: “Ei, menino! Meniiino!!” Precisavam ver como ela falava alto, gritava feito uma maluca. Fingi q não ouvi, mas um rapaz bateu em minhas costas e a apontou. Não teve jeito. Tive q olhar.

Veio até a mim. [Vou usar um pseudônimo pra ela: Roberta, pra não queimar mais ainda o filme da menina]. Era meio esquisitinha, desmilingüida, sem muita coisa pra oferecer, mas mesmo assim gostava de se exibir q era uma beleza. Cê precisava ver. Quando chegou perto de mim, acho q a rua toda tinha parado pra ver quem era o tal do “meniiino!”, euzinho aqui. Respirei fundo e fingi q nada de mais estava acontecendo.

– Ô menino, me desculpa, por favor! Eu e minhas colegas somos muito brincalhonas, bestonas assim mesmo, mas a gente não tinha intenção de constranger...

– Não, não se preocupe não. Eu não fiquei constrangido... Impressão sua. Tá tudo bem comigo. / ¿É só isso?... Então tá bom. Tchau!

Virou namoro, uma semana depois, quando peguei aquele mesmo ônibus, naquele mesmo horário, agora sem engarrafamento, sem buzu cheio, sem suas amiguinhas... Sem muita conversa, ela me agarrou e me deu um beijo na boca. Mas um beijo forçado, daqueles bem vexatórios, com agarrão dela, empurrão meu, insistência dela, outro “não” meu, mas no fim, acabei cedendo e até gostando um pouquinho.

Trocamos telefones, endereços e marcamos pra pegar um cinema, no Multiplex do Iguatemi. Depois do filme, ficamos na praça de alimentação do Shopping, comendo uma pizza e nos conhecendo melhor.

¿Mas sabe aquela história de q “a primeira impressão é a q fica”? Pois é. Não era só uma mera impressão minha. De fato éramos um casal muito diferente (entre si). Eu, caladão, na minha, e ela, falando pelos cotovelos, com um fogo impossível de ser apagado. Ela era extremamente, totalmente, irritantemente extrovertida, enquanto eu, já sabe ¿né?

Roberta era capaz de entrar num salão lotado de pessoas, todas desconhecidas, de cabeça erguida e olhando nos olhos delas, sem se abalar nem um pouco. Falava em público como se estivesse conversando com os amigos ou seus familiares e nunca titubeava nos seus discursos. Jamais a vi tremer na base.

Adorava conversar com o povo no meio da rua. Era eu olhar prum lado, q virava de volta, ela já tava em altos papos com algum estranho. Com as senhoras falava sobre novela; já com os senhores, futebol e, às vezes, política, q era o seu forte.

Quando via uma criança, caia matando. Se esbaldava, ficava falando umas bobagens, abraçando, beijando, fazendo caretas e não tava nem aí pros adultos q estavam em volta. Abria o bocão pra dizer aos quatro ventos q o maior sonho de sua vida era ser mãe. O q dava raiva era q sempre q ela dizia isso, a(s) pessoa(s) virava(m) pra olhar pra mim.

Beijava-me o tempo todo. No meio da rua, no supermercado, na farmácia, no restaurante e até dentro da igreja. Vivia falando umas coisas íntimas e, a depender do local e ocasião, ficava me provocando, seduzindo, tentando me excitar, sem quê e nem pra quê, assim, do nada.

Dizia q o q queria com aquilo era me animar, me exortar. Porém estava mais do q claro q a intenção dela ao agir dessa forma, freqüentemente, era me pirraçar, testar minha paciência. Eu tava ligado na dela.

Deixa eu começar a contar logo como foi q esse Amor de verão acabou indo por água abaixo, de uma vez. Quer dizer, de uma vez não. A primeira mais pesada q ela aprontou pra cima de mim, me deixando mais baixo q um cachorro, foi essa aqui:

A gente tava completando um mês de namoro. Pois bem... Ela me chamou pra sair, comer alguma coisa, beber um pouquinho, e eu fui. Me levou lá pro Estaleiro, na Ribeira, pra comer um tal dum pirão de aipim, q dizia ser maravilhoso. De besta, lá fui eu, sem saber o q me aguardava.

Sentamos à mesa de uma das barracas. Pedi uma cerveja, ela pediu o tal do pirão e uma coca, tudo beleza. Lugar lindo, ambiente informal, tranqüilo e nós também na Paz de Jesus. Sem motivo aparente, ela começou a olhar em volta, como q procurasse alguém. Parecia ansiosa. E estava. Só depois da cervejinha e do pirão-zinho q eu vim saber o porquê daquela ansiedade.

Olhou pra mim e sorriu. Pressenti o mal q estava para me acontecer. A voz de Whitney Houston começou a invadir os meus ouvidos, veio chegando mais perto, e mais perto, como se fosse a voz de satanás, o som do apocalipse... Chegou de uma vez e parou do nosso lado. Saía do som de um carro de telemensagem a uns cinco, dez mil decibéis... Gelei!...

Começou a juntar gente perto do lugar. As minhas orelhas foram esquentando, minhas vistas embaçando, até q ela me abraçou.

As pessoas bateram palmas, q dentro de mim equivaliam a tapas bem dados, na cara. Olhei pra ela, azul de vergonha. Por dentro, roxo de raiva, ódio. Mas tentei transparecer só a vergonha mesmo, a qual, dizia ela, já estava bem acostumada. Fiquei calado pelo resto da noite com ela falando cinicamente q não sabia qual era motivo da minha mudança de humor repentina... q eu tava feliz e q agora...

Passei o resto da noite bebendo pra tentar esquecer o vexame das 22 horas. Mais 22 mil anos q viessem depois, não seriam capazes de obter tal êxito. Mas, paciência... É cuidar para q não aconteça nada parecido novamente. (Foi o q pensei q com uma conversa ao pé do ouvido, poderia evitar).

Mas aconteceu de novo e dessa vez foi muito, mas muuuito pior! Na verdade, pior mais pra ela do q pra mim, q deve ter ficado na lembrança dos passageiros daquele ônibus como o “namorado da louca”. Ela não. Ela era “a própria”... Olha só o q aconteceu:

Dia lindo, e eu, Benício, bem bronzeado, bonitão; Ela, Adriana, só bonitinha [ainda bem, já q não chamava muito a atenção dos outros homens]... Praia do Rio Vermelho, num lugarzinho mais afastado, bem longe da muvuca.

Voltando pra casa, távamos nós dois naquele buzu mais ou menos cheio, sentadinhos, na Paz de Jesus, três poltronas atrás do motorista. O ônibus vindo pela avenida Oceânica, passou por Ondina. Enquanto isso, Roberta falava alto, pra todos ouvirem, as coisas “legais” q tínhamos feito na praia... Até aí, tudo bem.

Depois, perguntou se um senhor queria sentar-se no lugar q ela tava. Senti todo mundo olhar pra gente, mas o senhor, imagino q envergonhado, não aceitou: “Não minha fia, pode ficar aí”.
A sua cara de pau era enorme mesmo, mas chegou ao ápice no momento em q o ônibus percorria o caminho entre o Farol da Barra e o Porto.

De repente, enquanto ela olhava através da janela, bateu no meu braço e me perguntou:

– Ô Alvinho, ¿aquele homem ali não tá se afogando não?...

– Não, tá não! Fique calma q daqui a uns quinze minutos a gente já deve tar em casa – respondi, já meio irritado. A mulher não parava de falar, bicho! O tempo todo fazendo chilique...
Mas aquele último foi de lascar. Já perceberam q ela não deu a mínima pro q eu disse ¿não é?

– Tá sim, ¿não tá vendo não é? Meu Deus!... – Falava isso já gritando, praticamente. – Tá sim! Pára o ônibus motor!!! O moço tá se afogando ali na água!!
E se levantou, começou a pular e a passar a mão na cabeça, dizendo:

– Ai meu Deus! Desapareceu de novo... Ai meu Deus, o homem vai morrer! / Pára essa joça logo, motorista! Tem q ir alguém avisar aos salva-vidas.
O motorista parou no meio do caminho, em tempo de causar um acidente grave e alguém morrer até(!), depois q outras duas desequilibradas concordaram com o surto de Roberta. E aí foi um tal de colocar a mão na boca, tapar os olhos das crianças, todo mundo se pendurar nas janelas... Um horror!

Foi ali, no exato momento em q ela desceu do ônibus, q decidi acabar com o nosso romance, finalmente. Já não era tempo. Quando atravessou a rua correndo feito uma louca e quase foi atropelada por um Opala azul q vinha sentido Porto/Farol, foi a última vez q a vi.

Me mudei daqui de Salvador, justamente por causa desse episódio e nunca procurei saber q fim teve Roberta. Não me arrependo. Também, ¿quem é q ia querer continuar com uma mulher q não deixa nem os outros morrerem em paz? Eu, caí fora logo, antes q sobrasse pra mim também q eu não sou maluco.

In:

Um Casal, Um Carnaval

Luís acaba de ligar o computador, no seu quarto. Há pouco acordou, não tomou café e nem lavou o rosto ainda e já foi pro vício: jogar Paciência até doer a mão. Seu amigo Valtércio acaba de chegar na casa de Luís e depois de dar ‘bom dia’ à sua mãe, na sala, vai ter com ele:
– ¿Posso entrar?
– Pode.
– ¿Posso entrar, Luís?
– Pode. Empurra.
– Luís! ¿Posso entrar?
– Pode! Já falei mais de mil vezes. Empurra essa merda!
– Ah, então abra aí.
– Empurra a porra da porta, caralho!
– Ah, foi mal. / Pô bicho, cê ainda tá assim! Bora, se arruma logo.
– Acho q eu não vou mais não. Aâââââh!... – diz o preguiçoso Luís, bocejando e se espreguiçando. Mas não foi a preguiça q o motivou a não mais querer ir.
– Porra é essa Luís! Cê me garantiu q ia! Agora eu venho praqui pra sua casa, contramão da zorra, pra você agora dizer q não vai mais! Aí é sacanagem, bicho, na moral!
– Pô velho, foi mal! Não deu nem tempo de acordar pra ligar pra você.
– ¿E por q não ligou ontem de noite? Não, agora cê vai! / Bora bicho, se arruma logo aí! Ainda tem um colega meu q vai com a gente. Vai ser o bicho, rapaz! / ¿Mas por q tá desistindo assim, de uma hora pra outra?
– É q eu tive uma conversa com Claudinha ontem... Eu disse a ela q ia ficar de plantão no serviço hoje, pra nós dois dar o zignal, mas ela não levou muita fé em mim não, velho. Se eu for, ela acaba dando um jeito de ficar sabendo e aí não vai dar o q preste, ¿tá ligado? Se eu ficar em casa, eu ainda posso dizer q adoeci ou q fui liberado um turno, sei lá...
– Não, o mal é esse! Sabia! / Pô, mas q mulher chiclete da porra é essa, meu irmão! / Larga essa miséria logo, antes q ela coloque uma corrente no seu pé, sacana!
– Também não é assim, Valtércio.
– Não é assim o quê, Luís! Inda por cima essa mulher deve ser feia q só a porra. Tô ligado no tipo de mulher q você pára.
– Não, essa é até bonita. Bonitona.
– ¿Quantos quilos de beleza, a bonitona tem?
– É a primeira abaixo de 80 quilos q eu pego, mas isso não tem nada a ver, deixe de enxame. E mesmo assim, nem adianta criticar q as gordinhas, com cara de safada – ri, com uma ligeira cara de cu – continuam sendo as melhores(!), e sempre terão minha preferência.
– ¿Sabe o q é isso, sacana? Chá de calçola q ela lhe deu.
– Chá de sua bunda!
– Ah, colé véi! Cê só tem duas semanas com essa mulé aí e ela já tá nessa marcação. Parece até q cê gosta, na moral. / Xô chamar meu colega aqui pra você conhecer. Tá conversando com sua mãe, na sala. Bem fácil ele tar intimando sua coroa...
– ¿Quem é esse maluco?
– Pinto. Um psicopata de lá da Telemar. / Ô Pinto! Chegaí, rapidogue!
– ¿Qual foi?
– Ó praqui pra situação do cara ainda.
– ¿E aê maluco, beleza? Luís ¿né? Meu nome é Osvaldo, mas a galera me chama pelo sobrenome: Pinto. Prazer. / ¿E aí, vai ficar nessa maresia mermo ou vai cair na mulequeira com a gente? Tem q decidir logo, q as periguetes já tão na rua, só esperando o papai aqui chegar... – Valtércio e Luís se entreolham. – E esperando vocês também, claro.
– Não, eu não vou poder ir não. O negócio pegou com a nêga ontem, e aí, ¿tá ligado como é, né?
– Q nada, rapaz! Carnaval não tem q tar ligando pra namorada, noiva, mulher, zorra ninhuma! Eu mermo deixei minha esposa, com meus três pivetes, em casa, e tô aqui ó, nar manha, pronto pra me jogar. Não dei nem satisfação. Ela já tá ligada como as coisas funcionam, ¿tá ligado? Agora q eu voltei a trabalhar então, é só alegria!
– Mas eu não vou poder não. É sério. Fica pra próxima.
– Colé, Luís! Aí é mole seu.
– Enquanto cês se decidem aí, tô aqui na sala, conversando com Dona Alaíde ¿beleza? – Pinto sai e encosta a porta.
– ¿Onde é q cê arranjou essa disgraça, Valtércio, Deus q me perdoe? Moleque fala mais q a nêga do leite.
– Já sabe até o nome da sua mãe, sacana. Abra o olho!
– Q figura!
– Esse bicho encarna em mim, lá no trabalho. Tem pouco tempo lá, não conseguiu se enturmar, aí, sobrou pra mim. / Sim, ¿mas você vai né, bicho? Eu só vou se você for.
– Ah, Valtércio, deixe de chibiatagem! ¿Cê por acaso nasceu grudado comigo? Vá com seu colega aí rapaz, ¿qual a diferença?
– A diferença é q esse meu “colega” não vai botar nenhuma mulher na minha fita e... porra, Luís, tem quase seis meses q eu tô na seca. Nem um beijinho, bicho, em cinco meses e vinte e dois dias, aí é foda! Só falta uma semana pra bater meu recorde de tempo sem mulher.
– Ah, seu safado! Cê só quer q eu vá pra jogar as mulher nos seus peito ¿né? ¿Mas quem mandou ser feio desse jeito e ainda não ter atitude de chegar nas rachadas?
– Também não precisa ofender ¿né, Luís? Você tem é q me ajudar.
– É, mas você deu azar de pegar o meu primeiro Carnaval comprometido. Esse ano eu não posso nem olhar, ou melhor, nem pensar em olhar pro lado, pra não ter o perigo de contarem pra Claudinha q eu tava paquerando alguma menina e ela querer quebrar minha cara.
– Oxennn! ¿Tá com medo de apanhar de mulher agora, é? Ai, ai, ai, ai, ai! ¿Quer dizer q ela vai lhe quebrar no pau, se você for pular?... Ah, a galera tem q saber disso!


– Quebro mermo, Mainha!
– Oxe, menina! Deixe de ser besta q não é assim q se segura homem. ¿E por q cês dois não combinaram de ir juntos?
– Ô Mainha, ¿eu não já falei q ele disse q ia trabalhar hoje, o dia todo?
– ¿Mas e se ele for trabalhar mesmo, minha filha?
– Trabalhar o quê, Mainha! Eu já conheço aquele discarado!
– Ô, ¿mas vocês namoram faz quanto tempo?
– Ah Mainha, isso não tem nada a ver.
– ¿Como não tem, Claudinha? Parece até q...
Enquanto mãe e filha conversavam na cozinha, dois estrupícios batiam à porta de entrada. Cruz Credo!
– Vai atender a porta pras suas primas.
– ¿Q primas?
– Renilda e Rochelle. Tem meia hora q ligaram da rodoviária dizendo q tavam vindo pra cá. Vão passar o Carnaval aqui em casa.
– Deus q me livre! ¿E avisaram q vinham, antes?
– Quem disse! Só agora q ligaram pra cá. Tomei até um susto; pensei q fosse alguma coisa séria. E pior é q eu nem fiz a feira da semana q vem ainda. / Queria ver o q elas iam fazer se a gente tivesse ido pra Ilha, também.
– Se não fossem tão intrometidas e tão folgadas, dava até pra aturar. / Ah Mainha, abra a Senhora q eu vou ali guardar umas coisas minhas.


– Bora, vai logo!... Cê vai sim! Vá logo tomar um banho. Lava a cara, come alguma coisa, bora, bora!... Desliga essa porra, véi! Q merda!
– Peraê bicho. Só mais uma mão.


– Tia Zilda!
– Oi, minha filha!
– Tia.
– Oi, Rochelle. ¿Como é q cês tão?
– Tamo bem, tia. ¿E a senhora?
– Bem. Melhor agora q vocês chegaram. A casa tá meio vazia. Os meninos foram pra Mar Grande, Celso tá trabalhando; só tá eu e Claudinha aqui.
– Ah, ¿Claudinha tá aí é? Q bom!
– Tá. Tá trancada no quarto des-da hora q tomou café. Acho q ficou meio zangada com o namorado q foi pular no trio elétrico e não levou ela.
– Ah, eu não acredito! Xô ir lá falar com ela.
– Não, é melhor não! Depois. Ela disse q não tá pra ninguém e q não quer ser incomodada. Daqui a pouco ela sai e fala com vocês.
– ¿E ela sabe q a gente veio?
– Sabe! Eu falei com ela nestante. / E aí, ¿como é q tá a mãe de vocês?
– Tá bem. Mandou um beijão e um abração e perguntou quando é q Celso e a Senhora vão resolver visitar a gente de novo. Perguntou se vocês não iam pra lá no São João, agora.
– Quem sabe, minha filha...
– Esse ano vai ser bom q só! É por q é ano de eleição, ¿e sabe como é lá né?...
– Sei. ¿E vocês, vão ficar todos os dias do Carnaval?
Já perceberam q é só Renilda q fala, ¿não é? Pois é.
– Vamo sim, tia. A gente tá pensando em ficar até um pouquin mais q depois do Carnaval. Como as aulas só voltam daqui a duas semanas, a gente quer ficar mais tempo pra matar as saudades de Salvador. / Ô Rochelle! Tira logo as coisa de comer q Mamãe mandou pra tia Zilda da mochila.
– Ah, eh... – Rochelle despertando.
– É bem fácil ter derramado um monte de coisa aqui dentro. Do jeito q aquele ônibus tava balançando.
– ¿Já asfaltaram aquela pista q vai pra lá?
– Pra quê! Entra prefeito, sai prefeito; um promete, o outro promete e nada. Mas esse q vai entrar agora, com a bênção de Nossa Senhora, esse vai fazer. Precisa ver o moço. O home é lindo demais, tia! É Gel de Tonho, ¿conhece?
– Não. / Pode deixar essas coisas aí dentro mesmo, Rochelle, q depois eu tiro. Vão logo colocar as malas de vocês no quarto dos meninos. Cês vão ficar lá mesmo. Tomem um banho, comam alguma coisa q daqui a pouco eu vou ter q sair.
– ¿Vai pular Carnaval também, tia?
– Ô Renilda, quem dera! Mas esse negócio de Carnaval não é pra mim não, minha filha. Eu nunca gostei muito não. Claudinha e Celso q adoram! Mas eu e os meninos, nem tchum.
– ¿E vai ficar trancada em casa?
– Não, minha filha. Eu vou passar esses tempos na companhia do meu bom Deus, na Paz do Nosso Senhor Jesus Cristo: de hoje até Quarta-feira o pessoal da minha igreja, abençoada, vai se reunir diariamente pra...
– Ah tia, eu não acredito! Enquanto o Carnaval tá pegando fogo na rua, a senhora vai tar dentro de uma igreja, rezando!
– Rezando não, filha, q reza é coisa de umbanda, macumba e desse povo q mexe com coisas do diabo. A gente vai é orar por todas as pessoas q passam por necessidade nesse momento; pelas pessoas q se entregam aos prazeres da carne nessa festa pagã, sem a menor responsabilidade, e pelas pessoas q a gente gosta, pra q tenhamos um ano prospero e feliz.
– Ah, sei...
Rochelle sai do alfa e se manifesta:
– Ô Renilda! Pega a imagem de Padim Ciço q Mainha mandou pra tia. Tá ali na parte dos doces, ó. Pega logo pra não melar.


– Nem acredito q eu tô aqui, velho. Eu vou me lenhar, Valtércio, por sua causa. Se Claudinha desconfiar q eu vim pra essa porra, eu tô lascado!
– Re-la-xa Luís. Ainda estamos no meio da tarde de Sexta-feira de Carnaval. Daqui até Quarta-feira de Cinzas...
– ¡¿Q Quarta-feira de Cinzas!? Nada disso. O combinado foi só hoje e acabou!
– ¿Q combinado, Luís? Tá chupando doido!
– Não, só hoje e pronto!
– Tá bom! Só vou esperar você sentir o clima. Daqui a pouco eu é q vou tar querendo ir embora e você vai tar querendo ficar. Cê vai ver. Não vai ter Katinha certa!
– ¿Q Katinha, rapaz? É Claudinha! E eu só fico até de manhã, e olhe lá! / Pô, ¿mas quem mandou você me lembrar dela? Porra, Valtércio, cê é foda!
– Ah, porra nenhuma!
– ¿E se ela ligar pro meu celular? Com essa zoada da zorra, ¿como é q eu vou fingir q não tô aqui, em pleno Campo Grande? (...) Xô desligar ele logo, antes q ela ligue... Ué...
– ¿Q foi, rapaz?
– ¿Cadê meu celular?


– Claudinha! [toc toc toc] Claudinnnha!! ¿Cê tá aí? Eu sei q cê tá. É Renilda, bem. Já chegamos. Ô Clauzinha, ¿cê tem um modes pra me emprestar? É q minha menstruação inventou de descer logo agora e eu esqueci de trazer absorvente... [toc toc] Claudinha!
Claudinha pensando e respirando fundo:
– Ninguém merece!
Rochelle acaba de entrar no banheiro pra tomar um banho e procura uma escova de (para) dentes dentro do closet. Quer tirar um gosto ruim da boca. Já pegou uma toalha e um prestobarba q tavam dando mole. Enquanto isso, Renilda revira sua mochila, desesperada, em busca de um mísero absorvente. Claudinha aparece:
– Renilda! Já chegaram!
– Oi, Clau! Jááá! Tem mais ou menos vinte minutos.
Vai até Clau-(Claudinha), beijinho-beijinho, tudo bem-tudo bem...
– ¿Foi você q bateu lá no meu quarto?
– Foi, bem. ¿Te acordei? Desculpa. / Claudinha, como você tá bonita!
– Brigado...
¿Quer saber o q Claudinha pensou em dizer pra prima, depois do “brigado”? Imagine aí... Sacanagem, ¿né não? Malvadeza das piores com a bichinha, só por não estar dentro dos padrões de beleza ideais da sua espécie q, diga-se de passagem, corre o risco de entrar em extinção. Coitada. ¿Já não basta o ‘detalhe’ q está enfeitando o seu rosto, ultimamente?...
– Não, bem, – esse “bem” equivale a “querida” – é q eu fui inventar de ficar de boi, logo hoje, agorinha, e eu esqueci de comprar absorvente pra trazer. ¿Cê tem um aí pra me emprestar?
– Acho q tenho. Peraí q eu vou ver. / ¿Cadê Rochelle?
– Deve tar tomando banho.
– ¿E Mainha?
– Tia Zilda disse q ia no Mercado e voltava já.


– ¿Pinto já voltou, Valtércio?
– Não, mas peraí... Tenho quase certeza q foi ele q pegou seu celular. Cara mais folgado q aquele, meu irmão, tá pra nascer.
– ¿Será, Pinto? Eu acho q não foi ele não.
– Porra, Luís! Mas também, trazer celular pra Carnaval!... Pediu pra ser roubado, ¿né? Parece até turista desavisado. Carnaval né brincadeira não, meu irmão. Vacilou, nêgo leva até sua cueca.
– Ó ele ali!... Ih rapaz! Tá rolando alguma putaria com ele lá.
– ¿Que foi?
– Vai lá buscar seu colega. Foi bulir com a mulher do negão ali e o cara tá tirando pergunta a ele. Vai lá logo q o negão vai meter a disgraça nele!
– Xô ir lá.


– Ô prima, ¿não vai pular o Carnaval não?
– Vou não, Renilda. Esse ano eu preferi ficar dentro de casa mesmo, descansando. E eu também não tô com saco pra encarar multidão não. Vou alugar uns filmes, ler um livro, dar uma relaxada. Faz tempo q eu não faço isso.
– Ah, deixa pra relaxar depois, Claudinha. Carnaval é só uma vez no ano, bem. Bora pular com a gente, q nem daquela vez, ¿lembra? ¿Num foi bom q só? Então! Esse ano vai ser melhor ainda q a gente já pode namorar.
– Não. Na verdade eu nem posso, justamente por causa disso. Meu namorado tá trabalhando e eu só posso ir se for pra pular junto com ele. A gente combinou... Claro q ele só pode ir também se for comigo. É mais por isso q eu vou ficar em casa. / Mas domingo é a folga dele...
Lá vai a intrometida da Renilda. Comece logo vá, seu estopô dos inferno!
– ¿Será q ele tá trabalhando mesmo, Claudinha? Não q eu queira me meter na vida de ninguém, mas sabe como q é home né, bem(?): não dá pra confiar muito nas coisas q eles prometem.
– É, mas eu tive uma conversa séria com esse e ele não é louco de fazer uma safadeza dessa comigo.
– ¿Não é? Homem é tudo igual, Clau.


– Cê é maluco, rapaz! Bolindo com a mulher dos outros! ¿Quer apanhar, caralho? Ó, eu não vou mais lhe tirar dessas frias não. Depois sobra pra mim aí, q não tem nada a ver... Manera aí na cachaça q senão...
– Foi mal, Valzão! ¿Cadê Luís?
– Luís tá ali. Venha cá: ¿cê por acaso pegou o celular dele?
– Peguei.
– ¡¿Pegou?! ¿Cê é maluco, rapaz?! Eu falei isso com ele, mas foi pr’ele não desanimar mais ainda... Mas você pegou mermo, de verdade!... ¿Cê é doido é?!
– Não, rapaz. Eu bati no braço dele, quando eu peguei, e avisei. Fui ligar pra Nildão vim pra cá também. Nildão é meu primo, cê não conhece não.
– Sim, cê já tá é bêbo pa porra; ¿e cadê o celular?
– Peraê. Tá aqui no meu... ¿Cadê?... Ih, não tá aqui mais não. ¿Cê pegou?


– Anda, Rochelle! Sai logo! Tem mais de uma hora q essa menina tá tomando banho.
– ¿Cês duas já almoçaram?
– Não. Mas a gente não vai almoçar mais não. Já vai dar três horas. A gente só vai comer alguma besteirinha e ir direto pra rua q a festa já começou faz tempo. Só falta nós duas. ¿E tu, vai ficar aí mermo?
– Ô, né.
– Ô Claudinha!... Deixa de ser besta. Quer dizer q esse home tá trabalhando hoje... Han! Duvido! / ¿E é até q horas?
– O dia todo. Vai chegar mais tarde, mas vai tar cansado. Só domingo mesmo. Pegou plantão...
– Plantão! Ah, aí tem! Aí tem, meu bem! / Liga pro celular dele, pra ver se ele tá trabalhando mesmo. Finge q é alguma coisa importante e diz q quer conversar com ele quando sair do serviço, só como desculpa...
– Não. Eu confio nele.
– Então tá. Xô tomar meu banho logo q eu já tô atrasada. / Ô Clau: ¿cê tem um shortinho pra me emprestar? Q seja levinho e confortável porque os shorts q eu trouxe tão tudo apertado em mim. Deixa em cima da mesa q depois eu pego, ¿tá?
Não vá na onda desse estrupício não, Claudinha. Ô meu Deus! Deixa o homem trabalhar em paz, mulher! / Tô brincando, menina. Liga! Liga! Liga!...
“Este telefone está desligado ou encontra-se temporariamente fora de serviço”.
– ¡¿Como assim, desligado ou temporariamente...!?
– Claudinha.
– Oi Rochelle. ¿Tudo bem?
– Tudo.


– ¿E o celular, tava na mão dele?
– Tava não. Pô, mas q vacilo da porra q cê deu, bicho! Trazer celular, pra Avenida!
– Ah, meu irmão, eu tava tão azoado com essa história de vir ou não vir com você q eu nem me liguei nisso. Também(!), você com suas pressas... coloquei logo carteira e celular no bolso e nem lembrei desse detalhe.
– ¿E a carteira, ainda tá aí?
– Acho q tá.
– Pior é q esse celular cê comprou mês passado, ¿não foi?
– Foi. E ainda tenho q pagar mais nove prestações. Caralho. Mas o pior não é isso não. Pior é se ela ligar pra mim. Eu não vou atender, ela vai ligar pra lá pra casa...
– Mas você deu um toque à sua mãe sobre isso q eu vi.
– É, mas ela não vai acreditar no q Mainha vai dizer. Aí vai ligar pra empresa.
– Ih rapaz! ¿Como é q você não pensou nisso?
– ¿Quem disse q eu não pensei? De tudo, é o q menos preocupa. ¿Já deu quatro horas?
– Acho q já.
– Então: o meu departamento fecha umas três e meia, quatro horas, hoje. Ela vai ligar pra lá e ninguém vai atender.
– ¿Cê não disse q ia ficar funcionando até umas sete horas?
– É, depende de um telefonema do meu chefe. Se continuar aberto até essa hora, quem deve atender é Arouca. Mas Arouca é minha moral e eu já deixei ele de sobreaviso pra se Claudinha ligar me procurando, ele dizer q eu tô muito ocupado fazendo alguma coisa. / É capaz de Arouca ficar até mais tarde, mesmo sem o chefe mandar.
– ¿Por quê?
– Dizem q ele tá comendo a secretária do chefe, lá dentro do escritório mesmo. Roseli. Gostosa q só a porra! Cê precisa ver o monumento, Valtércio. O pessoal dos outros departamentos diz q quando a gente sai eles aproveitam...


– ¿Q é q cê tá procurando aí, Claudinha?
– Nada, Mainha!
– ¿Nada o quê, menina?
– Ah Mainha. É q eu acho q anotei o telefone do trabalho de Luís na agenda da Senhora.
– ¿E pra quê cê vai ligar pra ele agora? Deixa o menino trabalhar em paz, Claudinha.
– Trabalhar o quê, Mainha! Raiai, viu!
– ¿Cadê as meninas?
– Acabaram de sair. / Droga! Não tô achando.
– ¿Elas almoçaram?
– Não sei, Mainha! Por mim elas morrem de fome q eu não tô nem aí!
Ih, retou-se! Calma, Claudinha. Não se estresse, “bem”.
– Oxente, Claudinha! Me responda direito!
– Ah Mainha, me deixe viu!
– Q é isso, menina! Me respeite q eu sou sua mãe, sua nigrinha!
– Achei! Até q enfim.


– Tá rolando uma confusão ali.
– ¿Ali não é Pinto não?
– Não é o quê, rapaz! ¿E agora? De novo!
– Bora lá, Valtércio.
– Quem vai é coelho! Deixe ele se resolver sozinho agora.
– Bora lá, Valtércio! Seu amigo vai apanhar feio do casal ali. Aliás, dos dois casais! Bó logo, rapaz!
– Perainda... Ó... Êita, agora é q lenhou com tudo! O maluco bagulhou ele pela camisa.
– Ih, seu amigo tá apontando pra cá.
– Amigo do diabo! ¿Vai correr?
– Não, peraí. Bó ver qual é a desses caras.


– Alô! Boa tarde. Luís Carlos, por favor.
– Ele não está no momento. ¿Quem gostaria?
– É uma amiga dele. ¿Quem tá falando?
– Roseli. ¿Você gostaria de deixar um recado?
– ¡¿Roseli?! ¿Q Roseli?... ¿E um rapaz q trabalha com ele aí no escritório, não tá também não? Eu me esqueci o nome dele agora.
– ¿Arouca?
– Sim, acho q é esse mesmo. ¿Cadê ele?
– Ele deu uma saidinha rápida, mas volta já. ¿Algum problema?
– ¿Será q ele vai demorar?
– Não. Em cinco minutinhos ele já vai estar voltando.
– ¿E Luís? ¿Você não tem o telefone do setor q ele tá trabalhando hoje, não?
– ¿Luís? Ele só trabalha aqui dentro do escritório mesmo. Se não me engano, hoje é o dia de folga... Ah, peraí q Arouca chegou aqui ago...
[Pááá!!!] Calma, Claudinha! Quase quebrou o telefone. / Bom, se você se apressar, garanto q ainda pega as meninas no ponto.


– Pega, pega!
– Bora Luís, bora!
– ¿Bora pra onde? Peraí. Fique na sua, rapaz. Deixe comigo...


¿Q saia é essa, Claudinha? Vai abalar com tudo hoje, hein!
– Claudinha, eu tô saindo, ¿viu? Cê tranca a porta... [Susto] Claudinha! ¿O q é isso, menina? ¿Aonde é q você pensa q vai desse jeito, Cláudia Fernandes?
– Ah Mainha, me dêxe!!!
– Oxente, Claudinha! Deixe de ser respondona!! Me respeite, sua...
– ¿Sua nigrinha? Já sei, Mainha. Ói, me deixe em paz.
– Oxe!!! Mas será possível!! Era só o q me faltava!
– Ah Mainha, não me azoe mais não! Eu vou pra rua, ¿por quê?
– Ia, porque não vai mais!
– Tá Mainha, mas eu já tô atrasada. Xô ir logo pra ver se ainda dá tempo de pegar “suas sobrinhas” no ponto. E não precisa me esperar não, ¿viu? Nem hoje nem amanhã. Segunda eu dou um jeito de mandar notícias... Tchau tchau!
– Mas...


– ¿Mas, o quê, Valtércio? Bora se sair desse maluco logo, antes q ele arranje uma confusão maior pro nosso lado.
– Mas dessa vez foi os caras q procuraram, Luís. Você viu como o maluco tava falando com você, q nem tinha nada a ver com a história.
– Isso é o q ele tá dizendo, Valtércio. Quer dizer q os caras iam procurar confusão com ele só por ele ter pisado nos pés das meninas, sem querer!... Você é q é besta de acreditar nas desculpas dele.
– É mermo...
– Esse Pinto é bolo doido, rapaz. Ele tava era procurando frete com as meninas, mesmo. Merecia tomar uns catiripapo pra ver o q é bom.
– É, ¿mas cê acha q é fácil se livrar dele assim, de uma hora pra outra? Vá, fique nessa! Esse bicho me segue pelo cheiro.
– Porra nenhuma! A gente diz q vai ali comprar uma cerveja e abre o gás, tira o corpo fora. ¿Topas? Ah meu irmão, é o jeito, porque se for pra continuar andando com esse cara, eu prefiro ir embora.
– Não, beleza. Então fala com ele logo aí q a gente vai comprar alguma coisa pra comer e volta. (...)
– Ô Pinto!
– ¿Q foi?
– Eu e Valtércio vamo ali, rapidinho, comer alguma coisa e volta logo, jogo rápido, ¿ninhuma?
– Beleza. Peraí q eu vou também. Bateu uma fome da porra agora, véi. Q merda é essa! Parece q eu tô com um buraco na barriga. Perainda...


– Pera! Espera um pouco, motorista! [Pa, pa, pa!] Abre aí motor, na moral! Cobra!...
– ¡¿Claudinha?! – Renilda falando, Rochelle pensando.
– Ai, ai, – ofegante – brigado cobrador. Oi meninas. Mudei de idéia...
– Êta! É hoje!


– ¿Q dia é hoje?
– 13.
– Q ‘dia’ o quê, rapaz! ¿Q horas são? Já tô ficando doido, só por causa desse seu colega, ¿tá vendo?
– Porra, Luís... o relógio tá dentro da cueca e eu tô com preguiça de pegar. Mas já deve ser umas cinco e quinze, cinco e meia. Já tá com cara q vai anoitecer.
– É, ainda temos uma noite inteira pela frente.
– Pois é. Então bora animar aí. Porra é essa! Bó começar a encarcar o dente, esquecer esse maluco e começar a chegar nas periguetes... É Carnaval!


– É Carnaval, Claudinha! O galeguinho tá doido pra namorar contigo e tu tá dizendo q não quer! Pára com isso.
– Não, Renilda, é q eu não sou menina de sair ficando com um e outro, só com o pretexto de q é Carnaval. Eu acho isso feio.
– Ah, bem, nem vem, viu!
– ¿O q foi? É verdade sim! Eu acho feio mesmo. Não faço questão de ficar com um, q dirá com mais. / Além do q, beijar quem eu nunca vi na vida, em tempo de pegar uma doença, Deus me livre!
– Ah, tá bom. Vá dizer q você não gostou do galeguin!
– Nem sei de quem é q cê tá falando, pra dizer a verdade.
– Já sei! Ah, agora eu entendi!
– Pára, Renilda. Deixa de ficar falando e pensando besteira.
– Não, já sei. ¿É por causa do namoradinho, né? ¿Ele tá aqui também?
[Silêncio durante três segundos... quatro...] Assim você está se entregando, minha amiga. Quem cala consente. Diz pra ela q não... [sete... oito...] É, eu tentei.
– Sabia! Ah Claudinha, aproveita então. Faz o q ele tá fazendo também.
– Oxe! Eu não disse nada.
– Tá, mas cê acha q eu não sei q você só veio porque soube q ele tava aqui!... ¿Tá achando q eu sou besta?
– Sim, mas eu não vou ficar com ninguém não e acabou! Nem adianta insistir. / ¿Cadê Rochelle?
– Acho q foi no banheiro.


Pinto, dois minutos antes de pegar Rochelle pelo braço, grita feito um louco, no meio da multidão:
– Eu quero fuder, porra! Eu quero fuder!
– ¿Esse cara tá com você, Valtércio?
– Comigo mermo não! Nunca vi essa figura em minha vida.
Pinto, pra Valtércio:
– Bora, Valzão! Deixe esse maluco aí... ¿comé mermo o nome dele?... Ah, sei lá! Bora, deixe ele aí q ele já é comprometido, a mulé dele é braba... vamo tratar de arrumar ar nossas... Bora. ¿Vai ou não vai, Valzão? – fala, atropeladamente, abraçando Valtércio pelo pescoço.
– Não, vá lá! Vá lá, arranje as meninas q eu vou depois... Arranje e me chame q eu vou.
– Vou arranjar. Cê sabe q eu arranjo ¿né? Eu vou... ¿Posso ir? Espera um pouco... Vou lá, hein! Me espere aqui. Valzão, não saia daí não, ¿viu? Me espere aí... [esbarrão] Ôpa!
– Ai!
– ‘Ai’ também, coisinha linda! / Oi, meu amorzinho, ¿tudo bem? Q coisa linda q você é! ¿Sabia q você é linda? ¿Como é seu nome?
– Ai.
– ¿Tá com medo de mim? ¿Tá com medo de mim? Tenha medo não.
– Não tô com medo não.
– Ah, ainda bem! ¿Como é seu nome, minha flor?
– Rochelle.
– Rochelle, q nome lindo! O meu é Osvaldo. Prazer. ¿Cê tá sozinha, meu bem? – Gato escaldado.
– Não. Tô com minha irmã e minha prima. Elas tão bem ali ó.
– ¿Ali onde? Aquelas quatro q tão...
– Bem aqui ó. São duas só. A de preto e a de saia curta.
– Ah, q bom! Cê não é daqui não, ¿é? Seu sotaque é meio diferente.
– Sou não.
– ¿Tá sozinha, quero dizer, tá com namorado aqui?
– Não.
– E sua prima... ¿É a de saia curta, né? ¿Como é o nome dela?
– Claudinha. Acho q ela largou o namorado hoje.
– ¿Ah, tá sozinha?... Q ótimo! / A outra é sua irmã... ¿Como é o nome dela?
– Renilda.
– Ah, sei. Renilda. A da manchinha no rosto...
– Não, ali não é manchinha não. É micose. Mas já tá sarando já... Ela também tá sozinha.
– Olha só! – bêbado pensando: “Calma! Você não está bêbado. Converse direito com a menina. Vá com calma. Calma... / Não vá direto ao ponto... Ah, q nada!” – Eu tô com mais dois colegas aqui. ¿Q é q cê acha de a gente armar um terno?
– ¿Q é isso?
– Um terno. Eu namoro com a sua prima, você namora com meu amigo Valtércio e meu outro colega namora com a sua irmã. ¿Q é q cê acha? São esses dois aqui atrás de mim, ¿tá vendo?
– Tô. Tá, eu vou perguntar se elas vão querer.
– Isso, fale com elas. Eu vou chamar meus colegas e daqui a pouco a gente vai lá, ¿tá bom?

– ¿Você é maluca, Rochelle? Ô meu Deus! ¿Eu não falei q eu não vim aqui pra namorar com menino nenhum? Eu só vim aqui pra acompanhar vocês.
– Oxente, Claudinha! ¿Já mudou o discurso foi?
– Olhe, Renilda! Eu me retar eu vou é embora, ¿viu? Eu não sei pra quê q eu fui inventar de vir com vocês duas pra essa porcaria de Carnaval.


– Ó pra isso! Cê é maluco, rapaz! ¿Cê disse q eu ia também foi?
– Ô véi, ¿cê não vai não é? Porra, esse bicho é todo cheio de nove horas. Cês acabaram de dizer q se eu arranjasse mulher era pra chamar vocês...
– ¡¿Eu!? Eu não disse nada.
– Ah Luís! Colé! Eu só vou se você for, bicho! Bora.
– Mas rapaz! Era só o q me faltava! ¿Cê é maluco, Valtércio?
– Porra, Luís, deixa de abestalhadice! Bora. Esquece a outra, véi!
– ¿Outra o quê, Valtércio? Cê é doido! Não bicho, essa...
– ¿Não vão não?... Oxe, bora! As meninas já tão esperando. Bora rapaz!


– Ô Claudinha! Deixe de besteira. Olha lá os meninos como são bonitinhos.
– Olhe Renilda, me deixe viu! Vão lá vocês duas e me deixem aqui.
– Ô Clau, desculpa! Eu não sabia.
– Oxe, ¿pra quê pedir desculpa, Rochelle? Ela ainda acha! A gente ajudando ela a se vingar do namorado traidor e ela fica assim...
– Ó Renilda, fique na sua viu, preu não me retar mais ainda com a sua cara.


– ¿Cara?
– Sim, cara.
– Coroa. Vá...
[ $ ]
– Ah, perdeu! Coroa. Vai ter q ir.
– Ah não!
– Ah sim!


– Assim q se vinga de homem, bem. Dando o troco com a mesma moeda, ¿concorda? – Você não tá vendo q Claudinha não tá gostando nem um pouco dos seus comentários, sua jumenta! – Ô Claudinha, não se zangue comigo não, ¿viu? Eu só tô tentando ajudar.
– Lá vem eles. O seu é esse mais fortinho. O meu é o mais alto – diz Rochelle, empolgada, pra irmã.
– Se eles vierem pra cá, eu saio daqui na mesma hora!
– Ô Clau, por favor! Se você não for, o outro vai se sentir rejeitado.
– Oxente, ¿e eu com isso?... Cê acha q eu vou sair beijando um menino q eu nem conheço, só porque...


– Não seja por isso, gatinha. Vai passar a conhecer agora...
Pinto puxa o braço de Claudinha, q estava de costas pra ele, virando-a em sua direção e tascando-lhe um beijo na boca. E é esse beijo forçado q marca a fusão total das situações.
Pena q o coitado do Pinto só ficou mais dois segundos acordado. Luís pancou e ele caiu desmaiado, na hora. Abriu-se um clarão em volta dos seis.
– *...
A troca de olhares entre Claudinha e Luís sobre o corpo de Pinto, caído no chão, foi breve também. Durou os mesmos dois segundos do beijo forçado q levou esse corpo à lona, fora a fala a seguir:
– Claudinha – disse o escabreado Luís, com a habitual cara de cu – até q enfim eu encontrei você. ¿Cê tava aonde?
– Ah, q coincidência! Eu também tava te procurando.
[Pluf!] Ê murraço! Viu saqué! Tomou no...
> Han-han!... Não se empolgue tanto, narrador <
Ôpa! Foi mal, desculpa!
> Tudo bem, continue... <
A cara de pau de Luís rachou no meio, depois da investida da ex-faixa roxa de caratê Claudinha.
No momento em q o corpo de seu, agora, ex-namorado rasgava o ar, desligado e banguela, até desabar sobre Pinto, Claudinha foi lacônica e um tanto quanto despreocupada com o nosso ‘bendito’, grosso modo, português:
– Toma, cachorro, sem vergonho!
Renilda, antes de entrar em coma profundo, ainda comentou:
– Q violência, Claudinha! Quem diria!... Mas eu entendi: Você gostou do primeiro, ¿não foi? Eu percebi... E ainda disse q não queria ficar com ninguém, ¿não é, sua...
[Ploct!] Gostei também. Bem feito!
– Claudinha! ¿Você é maluca é? – dizia Rochelle, acudindo a coitada da irmã, também caída, beijando o asfalto.
– Foi mal! É q eu achei q ela ia me chamar de nigrinha... Ainda bem q não foi Mainha q tava aí.


A polícia chegou um minuto depois e levou Claudinha pro módulo. Coitada da minha amiga. Foi parar no xilindró. Mesmo assim, continuo admirando ela, pois trata-se de uma mulher de palavra: na segunda-feira teve direito a um telefonema e ligou pra mãe, mandando notícias. Coitada de Dona Zilda. Quase bateu a caçoleta.


Bom, mas esta história não tem final infeliz para todas as personagens. Pelo menos para um casal... Valtércio (tirando um atraso de quase seis meses e, felizmente, não batendo seu recorde pessoal - negativo - de ‘seca’) e Rochelle (a introvertida moça feia do interior q não viu ‘a banda’ passar, pois estava distraída) selam com um beijo cinematográfico, na porta do HGE, a história de um Carnaval inesquecível, regrado a Amor, azar e vingança.